No que toca ao sexo, os homens desfrutam mais do que as mulheres ou essa ideia não passa de um mito urbano? Vânia Beliz esclarece todas as dúvidas e deixa alguns conselhos para aumentar a satisfação durante a atividade sexual do casal.
Um estudo científico inglês divulgado pela publicação especializada Public Health England revelou que as mulheres, principalmente as mais jovens, têm cada vez mais dificuldades em conseguir alcançar prazer nas relações sexuais. Segundo os investigadores, quase metade das mulheres da geração millennial não tem uma vida sexual satisfatória. Já em 2017, um estudo científico americano revelou que o género e a orientação sexual poderiam ter um impacto na frequência de orgasmos.
Mas será que esta diferença de género influencia mesmo o prazer nas relações sexuais? A sexóloga Vânia Beliz, autora do livro “Chamar as coisas pelos nomes – Como e quando falar sobre sexualidade”, desconhece a existência de estudos ou investigações que afirmem que os homens têm mais prazer do que as mulheres. “Os homens podem é ter mais facilidade em chegar ao prazer através do orgasmo, por exemplo, mas isso não significa que tenham mais desejo”, considera.
Segundo a sexóloga, os homens têm “uma resposta sexual mais eficaz para chegarem ao prazer”. “Muitos têm mais facilidade no prazer, excitação e no orgasmo, mas não são todos iguais”, sublinha, no entanto, a especialista. Já no caso das mulheres, “o nosso ciclo hormonal faz com que, durante o mês, as mulheres tenham alterações muito evidentes no desejo, por exemplo”, adverte. “E, nesse aspeto, os homens não são expostos a uma influência hormonal que os condicione tanto”, realça ainda a especialista. “Isso não significa que eles estejam sempre prontos, como achamos tantas vezes”, alerta, contudo, Vânia Beliz.
“Os homens também podem ter dificuldade no desejo e na excitação”, sublinha a especialista. “Não são máquinas sexuais, por isso também podem não ter vontade, estar cansados e até, claro, terem dores de cabeça”, refere. E assim chegamos a outro mito muito habitual na nossa sociedade, o de que os homens estão sempre dispostos a ter relações sexuais. De acordo com a sexóloga, ao contrário do que muitos fazem crer, não é bem assim e os homens também falham.
“Quando isso acontece, a mulher não está habituada e, muitas vezes, é aqui que começam as cobranças. Tenho casos em que as parceiras fazem pressão junto dos seus companheiros, uma vez que associam a falta de vontade a desinteresse”, confidencia. “Acham que os companheiros já não gostam delas, o que aumenta ainda mais a ansiedade deles em relação ao desempenho. Por vezes, chegam a recorrer a fármacos para ajudar a melhorar o desempenho”, condena a sexóloga.
Para Vânia Beliz, os homens têm o mesmo direito do que as mulheres em dizer que não lhes apetece. Mas será verdade que os homens perdem o interesse sexual mais cedo quando estão numa relação duradoura? Vânia Beliz desconhece a existência de dados que confirmem essa teoria. “Não existem dados que nos digam que isso acontece apenas com os homens. A frequência sexual tem tendência a diminuir nos homens e mulheres, mas isso não significa que percam o interesse”, diz.
“Para muitos homens, porque são educados para isso, seduzir é importante, pelo que, muitas vezes, faz parte do seu conceito de masculinidade a procura e o desejo constante, mas há que desmistificar estes conceitos que podem trazer muitos problemas ao desempenho masculino”, acrescenta ainda. Quanto a sugestões para que as mulheres tenham tanto prazer como os homens, a sexóloga aconselha a que “vivam a sua sexualidade de forma mais liberta e sem medo de se entregarem aos seus desejos e prazer”. “Têm de fantasiar mais e exigir menos de si”, aconselha. “Não podemos ser boas em tudo”, ironiza mesmo a especialista.
“Diminuir a pressão pode fazer a diferença na forma como vivemos a nossa intimidade”, garante. Na opinião de Vânia Beliz, as mulheres “têm um problema em fantasiar”. Tanto o livro como os filmes da saga “As 50 sombras de Grey” foram um sucesso “porque levaram as mulheres a fantasiar”, acredita. “É preciso que cuidemos da nossa autoestima, que tanto nos limita, e que coloquemos a nossa intimidade em prioridade, como todos os outros campos da nossa vida”, pede.
As dificuldades que tanto elas como eles sentem.
Se algumas mulheres ainda têm dificuldades em viver a sua sexualidade na plenitude nos dias que correm, para os homens também tem sido difícil lidar com a emancipação sexual da mulher, garantem especialistas de todo o mundo. “Eles não estão habituados porque a sociedade não educa as mulheres para o prazer”, refere Vânia Beliz. “A nossa sociedade tem uma matriz conservadora e o sexo é visto como uma obrigação do casamento”. E dá como exemplo outro rótulo.
“Se o casal não tiver sexo todas as semanas, então é porque algo não está bem. Quando, na realidade, não quer dizer nada disso”, adverte. “A sociedade coloca rótulos e as pessoas culpam-se se algo não acontecer. Mas se para um casal pode ser normal ter sexo uma vez por semana, para outro casal pode ser normal uma vez por mês”, afirma. “O que é bom para uns não tem de ser para outros”, esclarece. “A sexualidade muda ao longo da nossa vida”, acrescenta ainda a sexóloga.
Entre as maiores inibições das mulheres no sexo, “elas ainda referem ter muita dificuldade em experimentar práticas como o sexo oral e o sexo anal, têm limitações em relação ao seu corpo e imagem e dificuldade em fantasiar e em explorarem-se através da masturbação. A sexualidade feminina ainda espelha os estereótipos do que se espera de uma mulher e, por isso, talvez seja difícil que se libertem do papel submisso para o qual foram educadas durante séculos”, insiste.
O que deve fazer para ter mais prazer:
As sugestões de Vânia Beliz, sexóloga, para que as mulheres tenham uma maior satisfação sexual:
– Fantasie mais
– Exija menos de si
– Quebre a rotina e planeie encontros românticos
– Evite relações sexuais sempre na mesma divisão
– Recorra a brinquedos sexuais
– Descubra a literatura erótica
– Opte por ver filmes eróticos que estimulem a fantasia
O que dizem os números
De acordo com o inquérito que serviu de base ao estudo norte-americano “Differences in orgasm frequency among gay, lesbian, bisexual and heterosexual men and women”, divulgado pela publicação especializada Archives of Sexual Behavior, o orgasmo é atingido, em termos médios, por:
– 65% das mulheres heterossexuais
– 66% das mulheres bissexuais
– 86% das mulheres lésbicas
– 88% dos homens bissexuais
– 89% dos homens homossexuais
– 95% dos homens heterossexuais